terça-feira, 26 de novembro de 2013

Abuso de álcool e drogas - Simpósio em Ribeirão Preto

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP realiza no dia 29 de novembro, o décimo Simpósio Anual do PAI – PAD, Programa de Ações Integradas para Prevenção e Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas até 28 de novembro.

O evento ocorre no Espaço de Cultura e Extensão (ECEU) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, localizado na Avenida Nove de Julho, 980.

O simpósio, coordenado pelo professor Erikson Felipe Furtado, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP, integra as atividades da “Semana de Alerta sobre o Uso Abusivo de Álcool e Drogas”. Terá como conferencista Maximiliano Ponte, da FIOCRUZ- Amazonas. Ele irá falar sobre o tema: “Juventude, uso de álcool e violência em um contexto indígena”.

A Semana de Alerta tem o objetivo de chamar a atenção dos profissionais de saúde e da população para a necessidade de ações de prevenção voltadas para a redução da violência associada ao uso de bebidas alcoólicas.

Estão previstas também mesas-redondas com participação de representantes de órgãos de saúde pública do estado e de municípios que compõem a XIII Rede Regional de Atenção à Saúde (regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Barretos e Franca).

As atividades são abertas ao público em geral. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas até 28 de novembro, véspera do simpósio, no local do evento ou pelos telefones (16) 3602-2727 ou 3904- 9474.

Mais informações: (16) 3602-2727

via Agência USP

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Recaída ao uso de drogas é alvo de pesquisa de neurocientistas

Em busca de tratamentos mais eficazes contra a dependência, cientistas do National Institute on Drug Abuse (Nida/NIH), dos Estados Unidos, têm se dedicado a criar métodos para identificar e estudar pequenos grupos de neurônios relacionados com a sensação de fissura por drogas.

Objetivo é identificar alterações estruturais nos neurônios que possam ser alvo para novos medicamentos mais eficazes contra a dependência | Wikimedia

O grupo coordenado por Bruce Hope conta com o brasileiro Fábio Cardoso Cruz, ex-bolsista de mestrado e de pós-doutorado da FAPESP que acaba de publicar um artigo sobre o tema na revista Nature Reviews Neuroscience.

“Nossa linha de pesquisa se baseia no pressuposto de que a dependência é um comportamento de aprendizado associativo. Quando um indivíduo começa a usar uma determinada substância, seu encéfalo associa o efeito da droga com o local em que ela está sendo consumida, as pessoas em volta e a parafernália envolvida, como seringas, por exemplo. Com o uso repetido, essa associação fica cada vez mais forte, até que a simples exposição ao ambiente, às pessoas ou aos objetos já desperta no dependente a fissura pela droga”, afirmou Cruz.

Evidências da literatura científica sugerem que essa memória associativa relacionada ao uso da droga com os elementos ambientais seria armazenada em pequenos grupos de neurônios localizados em diferentes regiões do encéfalo e interligados entre si – conhecidos em inglês como neuronal ensembles.

“Quando o dependente depara com algo que o faz lembrar da droga, esses pequenos grupos neuronais são ativados simultaneamente e, dessa forma, a memória do efeito da droga no organismo vem à tona, fazendo com que o indivíduo sinta um desejo compulsivo pela droga que é capaz de controlar o comportamento e fazer com que o dependente em abstinência tenha uma recaída mesmo estando ciente de possíveis consequências negativas, como perda do emprego, da família ou problemas de saúde”, disse Cruz.

Por meio de experimentos feitos com animais, os pesquisadores do Nida mostraram que apenas 4% dos neurônios do sistema mesocorticolímbico são ativados nesses casos de recaída induzida pelo ambiente. “São vários pequenos grupos localizados em regiões do cérebro relacionadas com as sensações de prazer, como córtex pré-frontal, núcleo accumbens, hipocampo, amígdala e tálamo”, contou.

Segundo Cruz, a maioria dos trabalhos que buscam entender a neurobiologia da dependência e descobrir possíveis alterações moleculares relacionadas com comportamentos que levam à recaídaavalia todo o conjunto de neurônios presente em amostras de tecidos cerebrais em vez de focar apenas nesses pequenos grupos.

“Acreditamos que uma alteração realmente significativa pode ser mascarada por mudanças nesses outros 96% dos neurônios não relacionados com a recaída. Por isso buscamos metodologias para estudar especificamente esses 4%”, explicou.

Uma das estratégias descritas no artigo publicado na Nature Reviews Neuroscience faz uso de uma linhagem de ratos transgênicos conhecida como lacZ. Os animais são modificados para expressar a enzima β-galactosidase apenas nos neurônios ativos.

“Nós colocamos o animal em uma caixa e o ensinamos a bater em uma barra para receber cocaína. Depois de um tempo, movemos o animal para uma caixa diferente, na qual ele não recebe a droga quando bate na barra. Chega uma hora em que o animal para de bater na barra. É como se estivesse em abstinência. Mas quando o colocamos de volta na primeira caixa, ou seja, no ambiente que ele foi treinado a receber a droga, ele imediatamente volta a bater na barra à procura da droga”, contou Cruz.

Nesse momento, os pequenos grupos neuronais são ativados no rato pelos elementos do ambiente. Os pesquisadores administram então uma substância chamada Daun02, que interage com a enzima β-galactosidase e se transforma em um fármaco ativo chamado daunorubicina, que provoca a morte desses neurônios ativos.

“Esperamos cerca de dois dias para o fármaco concluir seu efeito e, quando colocamos novamente o animal no ambiente associado à administração da droga, ele não apresenta mais o mesmo comportamento de busca da substância. É como se a fissura tivesse sido apagada após a morte desse pequeno grupo de neurônios relacionado com esse comportamento de recaída”, contou Cruz.

Outra técnica descrita no artigo também faz uso de animais transgênicos capazes de expressar uma proteína fluorescente apenas nas células ativadas. “Com auxílio da citometria de fluxo, conseguimos isolar apenas essas células que ficam fluorescentes e então procuramos por possíveis alterações moleculares. Podem ser alterações estruturais, como aumento no número de espinhos dendríticos, o que aumenta a interação sináptica e deixa o neurônio mais sensível. Podem ser proteínas intracelulares que também aumentam a atividade desses neurônios”, explicou.

Uma vez identificadas essas alterações, acrescentou Cruz, elas vão se tornar alvos para o desenvolvimento de fármacos capazes de tratar de forma mais eficiente a dependência. “Não existe hoje um medicamento realmente eficaz, tanto que cerca de 70% dos usuários de cocaína sofrem recaída após um período de abstinência. No caso do álcool, o número é maior que 80%”, afirmou.

O grupo do Nida conta ainda com outros pesquisadores brasileiros, entre eles Rodrigo Molini Leão, que acabou de concluir o doutorado com Bolsa da FAPESP na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (FCFAr-Unesp) em Araraquara. Também participa o doutorando Paulo Eduardo Carneiro de Oliveira, da FCFAr-Unesp. 

Por Karina Toledo | Agência FAPESP

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Acupuntura é utilizada no tratamento da dependência química

O tempo de tratamento é longo, porém o resultado é muito eficaz

Qualquer droga que cause alterações do comportamento do indivíduo pode causar dependências, como o álcool, cocaína, crack, maconha, medicamentos para emagrecer a base de anfetamina, calmantes, medicamentos tarja preta, entre outros.

A dependência química faz o indivíduo pensar só na droga, achar e sentir que a droga é a coisa mais importante da vida dele, tão necessária ou até mais importante que o repouso, a diversão, os alimentos, a vida social, deixando fatores importantes de lado.

A dependência química é uma doença grave, não tem cura, causando até mesmo alterações físicas e biológicas nos indivíduos. Na maioria dos casos, há interesse por parte do dependente químico em receber um tratamento, ele quer ser tratado, só não encontra forças para isso.

Vem sendo cada vez mais comprovada a eficácia do tratamento da dependência química através da Acupuntura . “A inserção de finíssimas agulhas em determinados pontos do corpo após um minucioso diagnóstico através da anamnese, leitura do pulso, leitura da língua, é ativado imediatamente no cérebro a produção de antiinflamatórios, analgésicos e antidepressivos, como a endorfina, serotonina e cortisol, diminuindo os sintomas da abstinência”, explica a Dra. Aparecida Enomoto, especialista em Acupuntura pela Universidade de Medicina Tradicional de Beijing e fisioterapia, com especialização em UTI Respiratória no Brasil.

O dependente químico está sempre buscando um prazer cada vez maior. Assim que pode, ele busca uma droga mais forte. Por isso, precisa ser tratado o quanto antes. A Acupuntura causa um grande alívio, diminui imediatamente a abstinência. Sentindo esse conforto, ele percebe que pode viver sem a droga. Fica muito feliz, porque, na verdade, todos querem ser tratados. Torna-se colaborativo, aceitando o tratamento. É muito importante a participação da família, porém, ele tem que querer ser tratado. “A vontade do paciente é soberana e temos que respeitá-la”, comenta a  Dra. Aparecida Enomoto.

Sobre a Dra. Aparecida Enomoto
A Dra. Aparecida Enomoto, graduada em MTC – Medicina Tradicional Chinesa, com especialização em Acupuntura pela Universidade de Medicina Tradicional de Beijing e em fisioterapia, com especialização em UTI Respiratória no Brasil.

Mais informações através do site www.acupunturaenomoto.com.br

via Bruna Moura | Notícia Expressa

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Programas do Estado atendem anualmente 19.200 pessoas para tratamento da dependência química

Por meio de diversas ações, Governo de Minas atua em prevenção, recuperação, reinserção social, pesquisa e disseminação de conhecimento relativo ao uso de álcool e drogas

Em 2012, parte da renda do Futsal Fest foi destinada ao tratamento de dependentes químicos em Minas | Aline Pereira

O crack é usado por 35% dos consumidores de drogas ilícitas nas capitais do Brasil, revela pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, divulgada na última quinta-feira (19). Para contribuir com a reversão desse quadro no estado, o Governo de Minas, por meio da Subsecretaria de Políticas sobre Drogas (Supod), atua em prevenção, tratamento, recuperação, reinserção social, pesquisa, disseminação de conhecimento, relativos ao uso e abuso de substâncias e produtos que causam dependência. Com a finalidade de oferecer tratamento aos dependentes químicos e proteção social, o órgão disponibiliza 1.600 vagas por mês em três tipos de modalidades: ambulatorial, permanência dia e abrigamento temporário.

O secretário de Estado de Esportes e da Juventude, Eros Biondini, explica que, para garantir vagas a 19.200 usuários de drogas, foram renovados, em julho deste ano, convênio com 28 instituições, integrantes do Programa Rede Complementar de Suporte Social ao Dependente Químico, para repasse de recursos da ordem de R$ 6,8 milhões. “Sabemos do trabalho vocacionado dessas comunidades terapêuticas, grandes parceiras na luta contra as drogas, e, por isso, empenhamos esforços para assegurar o investimento”, diz o secretário.

Além disso, Minas Gerais possui serviços como o Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas (Crad), que conta com profissionais especializados na área de dependência química, dando suporte e orientação a educadores, familiares e dependentes químicos. Com o trabalho, disponibilizam informação sobre a localização e o acesso a serviços de assistência pelo LigMinas. O serviço oferece, ainda, espaço físico para reuniões de grupos de mútua-ajuda, alcoólicos anônimos, entre outros. De janeiro ao final de agosto deste ano, o Cread registrou 73.141 atendimentos por telefone, mais de 2.800 presenciais e 1.570 em grupos. Desse total, 824 pessoas participaram de Grupo Familiar, 169 em Grupos de Acolhimento, 575 no Grupo Amor Exigente e dois no Grupo de Adolescentes.

Ainda no Centro de Referência, há o serviço de acolhimento e acompanhamento familiar ao usuário de álcool e outras drogas e sua família, em situação de crise, com vistas à minimização aos danos pessoais e sociais. As equipes, compostas por psicólogos e assistentes sociais, desenvolvem as atividades no domicilio e atuam, também, no sentido de apoiá-los após tratamento especializado.  A proposta é fazer o primeiro acolhimento, orientar e, quando necessário, encaminhar o usuário, ou membros da família, à assistência em serviços da rede disponível, ou seja, ambulatorial, permanência dia e abrigamento temporário. Neste ano, a prioridade é nos casos de internação encaminhados pelo Judiciário, totalizando, no primeiro semestre, 229 atividades de intervenção desenvolvidas.

Tratamento e Recuperação

Aline Fonseca do Couto, 33 anos, é uma das recuperadas por meio dos programas oferecidos pelo governo. “A droga entrou em minha vida através de um namoro viciado. Eu tinha 12 anos e comecei a cheirar cola de sapateiro e thinner por curiosidade. Aos 18 anos, experimentei maconha e, com 23, passei para a cocaína. Três anos depois conheci o crack e tornei-me escrava da pedra até os 30”, relata. Aline conta que seu pai faleceu há 13 anos e, por ser filha única, morava com a mãe e vendia as coisas de dentro de casa para sustentar o vício. Com 27 anos, engravidou, amamentou a criança por apenas um mês e quinze dias, voltou para rua e a deixou sob os cuidados de sua mãe.  “Um dia, minha mãe me procurou e relatou a falta que Laura, minha filha, estava sentindo de mim. Contudo, aconteceu uma tragédia. Como eu estava em uma favela, de esgoto a céu aberto, o mosquito da dengue a picou e como ela era portadora da doença de chagas, permaneceu internada por quatro meses e veio a falecer. A minha filha ficava com a minha tia e percebi que tinha perdido tudo, inclusive as únicas pessoas que me amavam. Piorei no vício, cheguei até a me prostituir para saciar a minha vontade de usar o crack. Decidi buscar pelo tratamento. Era a esperança de resgatar a minha vida”, conta.

Aline, então, buscou apoio do Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas. Lá, realizou os exames necessários para a internação e submeteu-se ao tratamento, por nove meses, no Centro de Reintegração social Beija Flor, uma das entidades parceiras do Governo de Minas, localizada na cidade de Oliveira. “Hoje, minha vida foi restaurada. Há três anos vivo de cara limpa. Recuperei a guarda de minha filha e estou casada com um homem que me aceita, respeita e me ama da forma como sou. Tenho a certeza de que daqui para frente só terei motivos para comemorar. Drogas? Nunca mais”, comemora. Atualmente, Aline é operadora de telemarketing e ministra palestras em escolas. “Não meço esforços para atuar na prevenção e recuperação das drogas”, afirma a ex-dependente.

Prevenção

No campo da prevenção, a Subsecretaria de Políticas sobre Drogas desenvolve o Programa Papo Legal – “Diálogos Comunitários para a Prevenção do Uso e Abuso de Drogas”, que tem como princípio a abordagem do problema do uso de drogas a partir da identificação das ações presentes em cada município, consistindo em um programa de caráter essencialmente preventivo, cuja atuação se dá em 47 municípios distribuídos em nove macrorregionais do Estado.

No plano estratégico, o Papo Legal direciona esforços para o fortalecimento dos Conselhos Municipais de Políticas sobre Drogas – Comads, entendendo-os como atores táticos importantes para a articulação das ações preventivas em âmbito local. Para isso, o programa desenvolve cursos de capacitação para representantes municipais, com objetivo principal de construir planos locais de prevenção do uso de drogas, que expressam a realidade e os anseios de cada município no que concerne à prevenção do uso e abuso de drogas. Soma-se a esta ação a elaboração de Mapas da Rede Social, ação que fortalece a rede de serviços, instituições e iniciativas ligadas à temática. Em 2013, o total do investimento aproximado para o Papo Legal é de R$ 1,5 milhão.

Outra ação neste sentido é o Concurso Estadual de Frases, Desenho e Redação. Em 2012, o tema foi “Mais Perto dos Livros, Mais Longe das Drogas” e obteve a adesão de 99.109 alunos. O objetivo consiste em formar uma consciência crítica nos alunos dos ensinos fundamental e médio das redes públicas e particulares e dos Centros de Prevenção à Criminalidade do Programa Fica Vivo. Em outubro deste ano, acontecerá a premiação dos três primeiros colocados nas cinco categorias (frase, desenho com frase, desenho, grafitismo e redação), as escolas e professores orientadores. Os prêmios variam de micro system e notebook a TVs de 42 polegadas.

Sobre a pesquisa

Encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), a pesquisa divulgada na última quita-feira indica que os usuários regulares de crack e similares chegam 370 mil, nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, representando 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha, nesses municípios, estimado em um milhão de brasileiros.

O trabalho foi feito com base em dados coletados em 2012 com 25 mil residentes nas capitais. As pessoas foram visitadas em suas casas e responderam a perguntas sobre suas redes sociais. Para o subsecretário de Políticas sobre Drogas, Cloves Benevides, a pesquisa elaborada pela Fiocruz torna-se referência para ampliação das ações voltadas para a temática. “O Governo de Minas tem um conjunto de ações em diversas áreas e foi colaborador de uma das fases da pesquisa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas/Fiocruz. A partir de agora teremos um norte para alinhamento e aprimoramento das políticas sobre drogas em nosso Estado”, destaca. Cloves Benevides participará da oficina organizada pela Senad, composta pelos técnicos e pesquisadores da Fiocruz, com o objetivo de detalhar e promover o aprofundamento dos resultados do estudo .

Pesquisadores da Fundação analisaram ainda o perfil dos usuários do crack nas capitais, regiões metropolitanas, em cidades de pequeno e médio porte de forma a retratar um cenário similar para o país. O trabalho mostra que a maioria da população que usa regularmente é de não brancos (80%), solteira (60,6%) e do sexo masculino (78%) e que por algum momento já esteve na escola (apenas 5% dos ouvidos não completaram um ano de estudo).

O levantamento mostra que, entre os 370 mil usuários de crack e/ou similares, 14% são menores de idade. Isso indica que cerca de 50 mil crianças e adolescentes usam regularmente essa substância nas capitais do país. A maior parte deles (56%) também está concentrada nas capitais do Nordeste, onde foram identificados 28 mil menores nesta situação. Depois do Nordeste, em números absolutos o maior número de usuários de crack está concentrado nas capitais do Sudeste. A região reúne 113 mil consumidores regulares da droga, seguido pelo Centro-Oeste (51 mil), Sul (37 mil) e Norte (33 mil).

via Agência Minas

domingo, 22 de setembro de 2013

Bebês abandonados por adolescentes viciadas em crack preocupam autoridades do Rio

Agência Brasil
A quantidade de bebês recém-nascidos abandonados por mães dependentes de crack preocupa autoridades e especialistas. Somente a 1ª. Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro recebe, mensalmente, pelo menos 80 pedidos de audiência para medida protetiva de abrigamento a recém-nascidos. “É uma coisa terrível e seríssima” lamentou a titular da vara, Ivone Caetano. “Tenho agendados, no mínimo, três a quatro bebês saídos dos hospitais, por dia, na minha vara. Fora os casos não agendados. E o crack contribuiu muito para isso”, disse a juíza.

A chefe-geral do Serviço de Assistência Social do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na zona norte, Dayse Carvalho, contou que a maternidade envia semanalmente para a Vara da Infância e da Adolescência da região até três recém-nascidos. Algumas mães passam mais de uma vez pelo hospital.

“Desde 2002 temos visto um crescente dessas mães usuárias de drogas. Naquela época levávamos um bebê para a vara a cada três meses ou mais. De 2010 para cá, esse número tem variado entre dois e três bebês semanalmente”, contou a médica. Dayse Carvalho ressaltou que as mães não abandonam efetivamente os bebês mas se mostram, na maioria das vezes, incapazes de cuidar da criança. “Muitas choram quando perdem a guarda”, lamentou ela.

Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada na quinta-feira (19), aponta que cerca de 10% das mulheres usuárias de crack relataram aos entrevistadores estar grávidas e mais da metade já haviam engravidado ao menos uma vez depois que começaram a usar a droga.

Dayse disse que a nova realidade da maternidade e da pediatria do hospital demandou a busca de parcerias. Uma das medidas tomadas foi o trabalho Amar, de acompanhamento pediátrico dessas crianças, além de uma parceria que está sendo costurada com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), também da Uerj.

A diretora do Nepad, Ivone Ponczek, explicou que a ideia do projeto é tentar atrair essas mães para que façam pré-natal e trabalhar o vínculo da mãe com o bebê para que as mulheres não desistam da criança. “São, em geral, meninas completamente despreparadas para a maternidade, que não tiveram mães, então a questão do vínculo e da maternidade é muito complicado para elas”, explicou a psicanalista.

“Algumas não têm o menor conhecimento do corpo, não sabem o que é pulmão, não sabem nem a relação de causa e efeito entre o relacionamento sexual e a gravidez”, explicou ela, que defendeu ações socioeducativas e doação de preservativos para esse público como medida preventiva de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.

O Nepad desenvolve há 28 anos pesquisas e trabalhos terapêuticos voltados para dependentes de todos os tipos de droga, com exceção do álcool. Entretanto, segundo Ponczec, o crack é a principal droga entre os dependentes atendidos no local.

“Estamos muito impactados, pois nunca pensamos que teríamos que lidar com bebês, crianças, essa relação da mãe com o bebê. Estamos, inclusive, criando um setor com espaço para a amamentação e para brinquedos. Recebemos grávidas, mães com bebês, mesmo crianças, com 6, 7 anos, já usuárias de crack”, lamentou a especialista.

A especialista alertou que a situação é grave e pede atenção e esforços por parte das autoridades e da sociedade. “Se não houver intervenção, há o risco de uma continuação do quadro, de mais bebês na rua, abandonados, reproduzindo a mesma história”, avaliou Ponzcek.

O psiquiatra do Nepad, Paulo Telles, explicou que o crack estimula o sexo para a obtenção de drogas, além de ser consumido em grande parte por adolescentes e pessoas muito jovens. “Quanto mais drogas se usa, menos prevenção se faz durante o sexo. São pessoas que não se cuidam e, provavelmente, não vão cuidar de filhos”, lamentou ele. O médico informou que no Nepad, que o percentual de mulheres entre os usuários de crack é maior do que entre os usuários de outras drogas.

Flávia Villela | Agência Brasil

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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Bases móveis para monitorar cenas de uso de crack

Paulo H. Carvalho/Casa Civil PR
Governo prevê entrega de 42 bases móveis para monitorar cenas de uso de crack até novembro

Deverão ser entregues, até novembro deste ano, 42 bases móveis para o vídeomonitoramento de inteligência nas cenas de uso de drogas, como parte do “Programa Crack, é possível vencer”. 

A informação foi anunciada na última semana pelo Ministério da Justiça (MJ), durante a divulgação do balanço da iniciativa que já alcançou todos os entes federados.

Atualmente, estão sendo entregues 70 unidades. Além do Distrito Federal, os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará já receberam 23 unidades que atuam como um pequeno centro de comando. Já Alagoas e Pernambuco receberão cinco bases ainda neste mês.

As bases móveis de videomonitoramento são microônibus adaptados que auxiliam as ações de policiamento ostensivo de proximidade nas cenas de venda e consumo de crack e outras drogas. Elas servem como um pequeno centro de comando e controle, dando suporte tecnológico aos profissionais de segurança pública que acompanham, por meio de monitores, as imagens captadas por câmeras de vídeo instaladas em pontos fixos de maior vulnerabilidade.

Segundo o Ministério da Justiça, os profissionais de segurança pública que atuarão nas bases estão sendo capacitados a atuar de acordo com a filosofia de Polícia Comunitária e em parceria com as redes que integram o cuidado ao usuário de drogas e seus familiares. Esses profissionais estarão aptos a fazer o encaminhamento dos usuários de drogas aos serviços de saúde e assistência social existentes no município, atuando também na mobilização comunitária, construindo com a comunidade no entorno das cenas de uso as soluções para torná-las mais seguras.

Reforço nas fronteiras 
O MJ também destacou que o Brasil tem ampliado o combate ao narcotráfico na região de fronteira. Além de fortalecer o trabalho de patrulhamento e fiscalização realizado pela Polícia Federal, Força Nacional e Exército, o governo federal ampliou os investimentos de recursos públicos para os órgãos de segurança pública dos estados fronteiriços, com o objetivo de impedir a entrada de drogas ilícitas no País.

O aporte financeiro feito pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) para a área de fronteira, entre os anos de 2011 e 2012, chegou a R$ 260 milhões, o que representa um aumento de 1.300% se comparado aos valores do período de 2009 a 2010, em que foi registrado um repasse de R$ 20 milhões. A verba é destinada principalmente ao reaparelhamento das unidades policiais, com a aquisição de sistemas de radiocomunicação, viaturas e equipamentos.

O reforço orçamentário é uma das ações previstas pela Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron), que está entre os programas prioritários da Senasp. A iniciativa tem viabilizado o alinhamento de diretrizes, a atuação conjunta dos estados por meio de operações simultâneas e a padronização de procedimentos tático-operacionais, trazendo resultados significativos.

Dados da Enafron mostram que, em 2012, as ações das polícias estaduais resultaram na apreensão de quase 82 mil quilos de drogas na faixa de fronteira, que equivale a 70% de toda droga apreendida no território dos 11 estados que fazem divisa com outros países – AC, AP, AM, MT, MS, RO, RR, PA, PR, RS e SC. Em 2012, os órgãos locais lavraram 19,4 mil flagrantes, concluíram mais de 137 mil inquéritos policiais, produziram 59,5 mil laudos periciais e apreenderam 6,6 mil armas de fogo na fronteira.

via Casa Civil/PR

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Reabilitação cognitiva ajuda a tratar dependentes químicos

O efeito da maconha, da cocaína e do crack no cérebro e o dano causado por essas drogas em funções cognitivas como memória, atenção, capacidade de planejamento e de tomada de decisões foram os temas de uma palestra apresentada pelo neuropsicólogo Paulo Jannuzzi Cunha, do Laboratório de Neuroimagem da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no World Congress on Brain, Behavior and Emotions.

Tema foi abordado pelo neuropsicólogo Paulo Jannuzzi Cunha, da Faculdade de Medicina da USP, durante o World Congress on Brain, Behavior and Emotions | arq.pessoal

Durante o evento, realizado em São Paulo no fim de junho, Cunha apresentou dados de pesquisas recentes que mostram como a reabilitação cognitiva – feita por meio de estímulos como o jogo de xadrez – pode ajudar a recuperar parte das habilidades perdidas pelo consumo de drogas e ser fundamental para evitar a recaída de dependentes químicos em tratamento.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Cunha à Agência FAPESP

Agência FAPESP – De que forma a maconha, a cocaína e o crack afetam o cérebro? 
Paulo Jannuzzi Cunha – Cada droga tem seu mecanismo de ação particular, mas todas atingem de alguma forma o sistema de recompensa cerebral, que envolve o córtex pré-frontal, a área tegmentar ventral, onde há um conjunto de neurônios responsáveis pela liberação do neurotransmissor dopamina, e o núcleo accumbens. Quando sentimos prazer – seja por um estímulo físico, como comida, seja por um estímulo emocional –, ocorre a liberação de dopamina na sinapse, que é o espaço de conexão entre um neurônio e outro. Mas não ficamos alegres o tempo todo e, para retornar à situação de equilíbrio, essa dopamina precisa ser recapturada pelo neurônio que a liberou inicialmente. As drogas impedem esse processo de recaptura e fazem com que um excesso de dopamina permaneça na fenda sináptica, estimulando a comunicação entre os neurônios do sistema de recompensa, intensificando e prolongando a sensação de prazer.

Agência FAPESP – De que maneira isso pode ser prejudicial? 
Cunha – Como as drogas estimulam muito o sistema de recompensa, mas de maneira artificial, o cérebro começa a ficar preguiçoso para produzir e liberar dopamina. Na medida em que o uso da droga vai se tornando crônico, a pessoa literalmente começa a perder os prazeres da vida e a sensação de bem-estar vai ficando cada vez mais restrita ao uso da droga.

Agência FAPESP – Mas como isso afeta as funções cognitivas? 
Cunha – Tudo o que fazemos precisa envolver um certo grau de prazer e bem-estar; caso contrário, não conseguimos manter a atenção por muito tempo na atividade. Então o sistema de recompensa está de alguma forma relacionado com funções executivas, memória, atenção, planejamento e tomada de decisões. Além disso, no uso agudo da cocaína e do crack, ocorre uma vasoconstrição e aumento da pressão arterial. Isso aumenta o risco de um acidente vascular cerebral e de entupimentos de pequenos vasos sanguíneos (isquemias). O uso crônico dessas drogas faz com que várias regiões do cérebro fiquem mal irrigadas, o que também pode afetar o processamento cognitivo. Os danos são ainda maiores quando a cocaína é associada ao consumo de álcool, pois a mistura das duas drogas causa a formação no fígado de um metabólito chamado cocaetileno, que intoxica os neurônios e pode causar danos ao coração. O crack, por ser absorvido mais rapidamente, causa os mesmos efeitos da cocaína e de forma ainda mais intensa. Já a maconha não causa a vasoconstrição, mas há estudos que mostram outras alterações vasculares, aumento no risco de derrame e a diminuição de certas regiões do cérebro como a amígdala e o hipocampo, que são ricas em receptores para o tetrahidrocanabinol (THC). Isso pode afetar diretamente a capacidade de memorização e a regulação de emoções como medo e agressividade.

Agência FAPESP – É por esse motivo que a maconha é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos psicóticos? 
Cunha – A maconha aumenta o risco de desenvolver sintomas psicóticos, mas os mecanismos relacionados a esse fato ainda estão sendo estudados. A suscetibilidade parece estar ligada tanto a características genéticas como ao histórico de vida do usuário de maconha, a forma como ocorreu seu desenvolvimento neuropsicológico e seu estado psicológico no momento em que faz uso da droga. Há estudos que indicam que portadores de um determinado polimorfismo no gene que codifica a enzima catecol-O-metiltransferase (COMT) apresentam risco maior de desenvolver sintomas psicóticos se consumirem maconha. Um estudo do nosso grupo reforça a hipótese de que o cérebro de portadores de transtornos psicóticos – entre eles esquizofrenia e transtorno bipolar – que usam maconha é diferente do cérebro de portadores de psicoses sem história de uso de maconha.

Agência FAPESP – Como foi feito esse estudo? 
Cunha – Os dados foram coletados durante o doutorado da Maristela Schaufelberger, na FMUSP, hoje docente na USP de Ribeirão Preto, e parte deles foi analisada durante meu pós-doutorado, que conta com apoio da FAPESP. Os resultados foram divulgados na edição de julho da revista Schizophrenia Research. Nós comparamos, por meio de exames de neuroimagem, o volume de certas áreas cerebrais de 80 voluntários sadios e não usuários de drogas, com 78 portadores de transtornos psicóticos não usuários de droga e com 28 portadores de transtornos psicóticos com histórico de uso de maconha. Também comparamos o desempenho de cada grupo em testes que mediam fluência verbal, memória operacional e a amplitude da atenção.

Agência FAPESP – Quais foram os resultados? 
Cunha – Era de se esperar que os psicóticos usuários de maconha se saíssem pior nas duas avaliações, mas curiosamente eles tiveram resultados mais parecidos com os do grupo controle. Os psicóticos não usuários da droga apresentaram volume cerebral menor, principalmente no córtex pré-frontal – ligado às funções executivas – e nas áreas hipocampais – ligadas à memória. Outros estudos recentes também estão apontando essa relação.

Agência FAPESP – Haveria algum efeito benéfico da maconha? 
Cunha – Não parece ser o caso. Do ponto de vista dos efeitos cerebrais, a maconha fumada está cada vez mais potente e mais rica em THC, que é o princípio ativo da droga e que está associado fortemente com problemas cognitivos e sintomas psicóticos. Por outro lado, há autores que defendem a hipótese de que o canabidiol (CBD), outra substância presente na maconha, poderia ter algum efeito neuroprotetor. Mas nossos dados não permitem afirmar isso, até porque não temos informações sobre a concentração de CBD e THC na maconha que os pacientes fumaram. Além disso, quem fuma maconha não absorve apenas canabidiol, mas também altas doses de THC, que conhecidamente causa danos cerebrais. Nossa hipótese é de que as pessoas que desenvolvem algum tipo de transtorno psicótico mesmo sem usar nenhum tipo de droga já apresentam algum prejuízo anterior no neurodesenvolvimento, talvez desde a infância, que faz com que o quadro inicial seja mais severo e as anormalidades cerebrais também. Já o paciente psicótico com história de uso de uso de maconha teria inicialmente um perfil neuropsicológico mais preservado, mas com a desestruturação funcional decorrente da psicose, em sua fase inicial. Mas, à medida que a doença avança, o quadro se torna igualmente grave nos dois grupos, pior ainda se o uso de maconha persistir. Os usuários de maconha não apresentam uma psicose mais leve que os demais.

Agência FAPESP – Por que certas pessoas são mais suscetíveis aos prejuízos causados pelas drogas e outras mais resistentes? 
Cunha – Há fatores genéticos e ambientais. Todos os estímulos que recebemos ao longo da vida, a cultura adquirida, o aprendizado de línguas e de novas habilidades, fazem com que o cérebro forme um maior número de sinapses e isso gera uma reserva cognitiva. Quanto maior for essa reserva, maior é a resistência ao déficit causado pelas drogas ou por doenças como Alzheimer nas funções executivas e na memória. Agora estamos estudando como a reabilitação cognitiva, que é uma espécie de musculação cerebral, pode ajudar a compensar o déficit funcional causado pelas drogas. Já temos dados que indicam que, quanto maior o prejuízo às funções executivas, maior o risco de um dependente em tratamento voltar a usar a droga.

Agência FAPESP – Como foi feito esse estudo? 
Cunha – Participaram 32 pacientes com diagnóstico de dependência de cocaína ou de crack, entre 18 e 45 anos, internados na Enfermaria do Comportamento Impulsivo do HC-FMUSP. Após a semana de desintoxicação, quando o teste toxicológico deixou de detectar os metabólitos da droga na urina dos pacientes, eles foram submetidos a diversos testes de avaliação das funções executivas, como atenção sustentada (manter o foco por período prolongado), atenção alternada (observar dois estímulos sequenciais, como números e letras, ao mesmo tempo), capacidade de abstração, flexibilidade cognitiva (adaptar-se a novos padrões de raciocínio), planejamento e tomada de decisões pensando no futuro. Após o período de internação de aproximadamente cinco semanas, o seguimento foi feito por telefone durante um mês. Os pacientes que recaíram durante esse período de seguimento foram os que apresentaram no início do tratamento o pior desempenho nos testes de avaliação das funções executivas. Dessa forma, os déficits cognitivos podem ser interpretados como indicadores da probabilidade de recaída dos dependentes. A pesquisa foi desenvolvida durante o mestrado da neuropsicóloga Priscila Dib Gonçalves, que contou com apoio da FAPESP e foi orientada por Arthur Guerra de Andrade. Agora, durante o doutorado, ela está avaliando o impacto da reabilitação cognitiva no tratamento, a partir de um novo modelo de reabilitação cognitiva que nós criamos, chamado “Xadrez Motivacional”.

Agência FAPESP – Como funciona esse modelo? 
Cunha – Usamos o jogo de xadrez aliado a técnicas de uma abordagem científica conhecida como Entrevista Motivacional, em que a terapeuta ajuda o dependente a entender as motivações que o levam a usar drogas e o auxilia a traçar metas para o futuro e estratégias para manter-se longe das drogas. Por meio de exames de ressonância magnética, estamos também investigando as regiões cerebrais ativadas durante a reabilitação, com apoio de Geraldo Busatto, que coordena o Laboratório de Neuroimagem da USP, com auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sabemos que os dependentes químicos têm danos generalizados em várias regiões, mas pensamos que aqueles da região pré-frontal – que coordena as funções executivas – são os mais relacionados com as recaídas e a dificuldade de aderir ao tratamento. Por isso, focamos na reabilitação dessas áreas pré-frontais. Nosso objetivo é investigar se o treinamento de fato faz com que essas regiões cerebrais funcionem melhor.

Agência FAPESP – Como a reabilitação cognitiva atua sobre o cérebro? 
Cunha – Trazer de volta os neurônios que já morreram é impossível, mas podemos estimular as áreas que continuam preservadas e deixá-las mais fortes para compensar o déficit cognitivo. É a chamada neuroplasticidade. Os dados preliminares já evidenciam melhoria cognitiva nesses pacientes, mas precisamos ir além e entender de que forma isso representaria melhoria na vida diária e na recuperação deles a longo prazo. 

Por Karina Toledo | Agência FAPESP

quinta-feira, 14 de março de 2013

Comissão contra o Crack inicia seus trabalhos


Em sua primeira reunião, deputados elegem presidente e reforçam compromisso em minimizar o problema das drogas.

Transformada em comissão permanente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas elegeu, na tarde desta quarta-feira (12/3/13), seus presidente e vice-presidente, respectivamente os deputados Vanderlei Miranda (PMDB) e Paulo Lamac (PT).

O novo presidente anunciou a Marcha contra o Crack e Outras Drogas, que será realizada no dia 15 de junho. “O crack não tem rosto, ele perambula pelas ruas, está nas mansões, nas periferias e até nas zonas rurais. Vitima nossas crianças e nossas famílias. Esta não é uma luta apenas da Assembleia, é uma luta de todos”, disse. O vice-presidente, por sua vez, chamou o problema que o Estado tem enfrentado com o crack de epidemia e disse que a concretização dessa comissão é um passo importante para combater a mazela.

Ambos estiveram também à frente dos trabalhos em 2012, quando a o grupo ainda era uma comissão especial. No início deste mês, o Projeto de Resolução (PRE) 3.802/13, de autoria da Mesa da ALMG, alterou o Regimento Interno da Casa para transformá-la em comissão permanente. O deputado Glaycon Franco (PRTB) lembrou que essa é a primeira comissão permanente para tratar o assunto das drogas nas assembleias legislativas. “Minas Gerais está mais uma vez na vanguarda”, afirmou. Marques Abreu (PTB) disse que a comissão enfrentará o problema de frente.

Comissão Especial da PEC 44/13 elege presidente e vice
Na primeira reunião da Comissão Especial da Proposta de Emenda à Constituição 44/13, realizada na tarde desta quarta-feira, foram eleitos os deputados Sargento Rodrigues (PDT) para a presidência e Wilson Batista (PSD) para a vice-presidência. A comissão foi criada para emitir parecer sobre a PEC 44/13, de autoria da Comissão Especial para o Enfrentamento do Crack, que funcionou na ALMG em 2012.

A proposta tem por objetivo destinar a arrecadação adicional proveniente do aumento do ICMS sobre bebidas e cigarros ao Fundo Estadual de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes. Os deputados da Comissão Especial para o Enfrentamento do Crack acreditam que esses novos recursos são essenciais para conter o agravamento da questão das drogas no Estado.

via Imprensa | ALMG

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Capacitação para quem lida com dependentes de drogas

erosbiondini.com

Curso online será oferecido pela Unesp a trabalhadores de comunidades terapêuticas

Estão abertas até o dia 8 de março as inscrições para os profissionais vinculados à comunidades terapêuticas em todo o Brasil, que assistem dependentes de drogas, para  participarem de um curso de capacitação oferecido pela Faculdade de Medicina (FM) de Botucatu, em parceria com a Famesp, promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Serão oferecidas 10 mil vagas e todas as aulas, acompanhadas por tutores, serão realizadas à distância.

As inscrições podem ser feitas pelo site www.capacitact.senad.gov.br e até cinco profissionais por comunidade terapêutica poderão se inscrever. Após uma analise do perfil do candidato, com base no preenchimento de um formulário, será enviada uma confirmação da inscrição.

A FM foi escolhida pelo governo federal para se tornar um centro nacional de capacitação de comunidades terapêuticas. Para a realização do projeto, a Senad destinou, inicialmente, R$ 2,7 milhões para que a instituição oferecesse o curso a cinco mil profissionais.  No entanto, o número de vagas foi ampliado para 10 mil e foi solicitado reajuste.O repasse deve passar para  R$ 4,6 milhões.

Estima-se que o Brasil tenha aproximadamente três mil comunidades terapêuticas que oferecem assistência a pessoas dependentes de álcool e drogas. Atualmente, faltam hospitais e ambulatórios suficientes voltados a esse atendimento.

Com apoio do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias de Informação em Saúde (NEAD.TIS) da FM, os alunos, que poderão ser gestores, líderes, terapeutas, voluntários de comunidades terapêuticas - acompanharão as aulas pela internet, através da plataforma Moodle, e poderão obter esclarecimentos com a ajuda dos tutores. Pelo correio serão distribuídos kits compostos por apostilas e videoaulas. As dúvidas serão resolvidas no próprio site do curso; por e-mail ou ainda através de um telefone 0800.

Para compor a equipe, serão selecionados 200 tutores. Já foram selecionadas 150 pessoas, entre médicos, enfermeiros e psicólogos, assistentes sociais,terapeutas ocupacionais e farmacêuticos, entre outros profissionais de saúde. Todos passarão por treinamento. Todos estes tutores devem morar a não mais do que 100 km da FM de Botucatu.

Os tutores receberão suporte de especialistas da FM/Unesp, que por sua vez serão coordenados por professores da instituição.

Qualificação pode resultar em ajuda financeira para entidades
Segundo a professora Florence Kerr-Corrêa, do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da FM, coordenadora do projeto, as comunidades terapêuticas com seus representantes capacitados poderão receber recursos financeiros. “Essas entidades, que focam o tratamento tanto individual como em atividades de grupo, serão vistoriadas e, se aprovadas, poderão receber verba do governo federal para poderem aprimorar sua estrutura”, explica.

Duas pesquisas serão desenvolvidas paralelamente à realização do curso. Os estudos deverão avaliar a adesão das comunidades terapêuticas, dificuldades, aplicabilidade do conteúdo transmitido e também serão aplicados questionários para avaliar a mudança de atitudes e expectativas dos profissionais após o treinamento.

Leandro Rocha | Comunicação e Imprensa da FM

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Holanda se arrepende de liberar drogas e prostituição


"O comentarista Carlo Germani nos manda um importante artigo, mostrando que a Holanda, um dos países mais liberais do mundo, está em crise com seus próprios conceitos. O país que legalizou a eutanásia, o aborto, as drogas, o “casamento” entre homossexuais e a prostituição reconhece que essa posição não melhorou o país. Ao contrário: aumentou seus problemas." 

Leia este artigo completo no blog Conservadorismo Brasil:



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Dependência química mobiliza autoridades e sociedade civil

Araípedez Luz P10
A busca por mecanismos para tratar a questão da dependência química mobilizou autoridades, entidades e sociedade civil nesta terça-feira (29). 

As formas de tratamento de viciados em drogas foi o assunto mais abordado durante uma reunião realizada na Sala João Pedro Gustin, na Câmara de Vereadores.

A mobilizadora social Alexia Dias destacou que o vício em tóxicos é um drama social e de saúde pública que afeta milhares de dependentes e pessoas próximas ou não a eles. “O pior é que o vício não se limita a um espaço ou grupo social. Ele está disseminado em toda a sociedade e causa inúmeros transtornos. Por isso, abordamos diversos assuntos relativos ao tema, entre eles, a internação compulsória”, afirmou. 

Existem três tipos de internação. A compulsória é determinada pela Justiça diante do risco que o dependente representa para a sociedade e que o vício significa para sua saúde. A voluntária é feita com consentimento do usuário e avaliação médica. Já a involuntária ocorre sem o consentimento do usuário, a pedido de terceiros e mediante avaliação médica.

A secretária Antidrogas e de Defesa Social, Flávia Carvalho, destacou que a pasta que administra cuida da prevenção por meio de programas levados às escolas e grupos sociais, como a Caravana Antidrogas. “Temos muito a discutir sobre drogas. A Administração Municipal é a favor da prevenção, da informação e das pessoas não experimentarem as drogas, além da capacitação de profissionais que lidam com um grande número de pessoas e famílias”, declarou.

Nos próximos dias, será produzido um documento e um vídeo pelos organizadores da reunião que será encaminhado ao prefeito Gilmar Machado. “Essa discussão já está sendo feita no governo municipal e vamos somar esforços, pois temos consciência sobre a importância do assunto. Está em nosso programa de governo o combate ao uso de drogas por meio da educação, em consonância com o trabalho da Secretaria Antidrogas que já está sendo feito”, disse o vice-prefeito Paulo Vitiello.

via Secom PMU

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Internação Compulsória: a polêmica por trás da medida


O Governo de São Paulo adota uma política polêmica que é a internação compulsória de dependentes químicos, para tentar diminuir e controlar o uso desenfreado do crack. Uma medida respaldada na ação integrada com o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB. Um serviço que contará com Comissão Antidrogas formada por promotores, juízes e advogados, além de um plantão criado pelo Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod).

O crack é uma droga que possui efeito rápido, e que por isso, o usuário passa a não ter controle de si. A agressividade que a droga causa no organismo faz com que o indivíduo não tenha percepção da destrutividade na qual está envolvido. Pautado neste argumento, o deputado federal Eduardo Da Fonte (PP-PE) propôs a política pública que prevê a possibilidade de internação compulsória dos dependentes químicos por ordem judicial.

Atualmente existem três formas de internação, a voluntária, involuntária e compulsória. Na primeira a pessoa aceita ser encaminhada para o hospital, num período de curta duração. O tratamento é intensivo e necessário e acontece de acordo com a vontade do paciente. No segundo caso, a internação involuntária acontece quando a pessoa está em surto, agitada e agressiva exageradamente. O paciente precisa ser contido e o uso de camisa de força pode ser um recurso. Já na internação compulsória depende da intervenção de um juiz e é usada nos casos em que a pessoa esteja correndo risco de morte devido ao uso de drogas ou de transtornos mentais. Esta medida acontece mesmo contra a vontade do paciente.

Aos que defendem a medida, o principal argumento é baseado nos pífios resultados do governo em controlar a proliferação das drogas no País e que é preciso, portanto, uma medida mais enérgica contra essa mazela. Reforça o coro a favor da internação compulsória o ministro da Saúde Alexandre Padilha e o Conselho Federal de Medicina (CFM). Em contrapartida, entidades de direitos humanos e dos conselhos regionais de enfermagem, assistência social e psicologia criticaram severamente a lei, pois, além de ser truculenta, a medida causa humilhações, maus tratos e violência. A crítica ainda mais contundente possui como cerne uma espécie de “limpeza das ruas” que o governo quer realizar e que contradiz a Reforma Psiquiátrica.

A Reforma Psiquiátrica visa garantir ao doente mental cidadania, ou seja, respeito a seus direitos e a sua individualidade, permitindo a inserção na sociedade e decretando o fim ao isolamento, repressão e à arbitrariedade da eugenia. A resocialização vai contra a exclusão social e a favor de reestabelecer a afetividade e a integridade. Toda esta nova mentalidade flerta com a luta antimanicomial, ou seja, diminuir os manicômios no País. Para tal, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) surgem como opção para atendimentos especializados em Saúde Mental, abertos e comunitários, em que os postos são transitórios para os usuários.

A internação compulsória ganha força às vésperas da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, em que o acolhimento social defendido na medida parece um “recolhimento” social. A questão não é o crack, mas o que faz com que as pessoas estejam naquela situação. Desemprego, violência e o tráfico de drogas são os verdadeiros alvos desta luta. Investir em educação, empregos, habitação e justiça são medidas muito mais eficazes do que os imediatismos de uma faxina social.

Breno Rosostolato | Psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina